Como as relações sociais e as comunidades podem melhorar a experiência da menopausa

Como as relações sociais e as comunidades podem melhorar a experiência da menopausa

Não será necessário apresentar estudos científicos para enfatizar a importância dos relacionamentos –  sejam amizades, vínculos familiares, pertencer a um grupo ou a uma comunidade. Mas os estudos existem e se há algo que a ciência tem provado repetidamente é que as relações sociais têm um impacto enorme na nossa saúde. As pessoas com laços sociais sólidos têm menos stress, são mais resilientes e vivem mais tempo!

O papel dos relacionamentos na longevidade foi analisado numa meta-análise de 2023, publicada na revista Nature Human Behavior, que incluiu mais de 2 milhões de adultos. Os investigadores descobriram que, em qualquer idade, existe um risco 14% maior de morte precoce associado à solidão e um risco 32% maior de morte precoce associado ao isolamento social. Dá que pensar.

Mas manter relações sociais sólidas não se trata apenas de viver mais tempo, mas também de viver melhor! O estudo longitudinal mais longo e aprofundado sobre a vida humana, conhecido como Estudo de Desenvolvimento de Adultos de Harvard, acompanhou mais de 700 homens a partir de 1938, integrando depois as suas mulheres e, mais recentemente, mais de 1.300 descendentes do grupo original. A conclusão do estudo, até ao presente é muito simples, mas profunda: bons relacionamentos dão saúde e felicidade! O segredo é mantê-los e cultivá-los.

Se considerarmos que, em média, cada português tem 3 dispositivos móveis e passa 8 horas por dia a olhar para ecrãs, o tempo para socializar presencialmente será muito limitado. No entanto, manter relações sociais sólidas é particularmente importante à medida que envelhecemos, já que as interações sociais estimulam o cérebro, trazem boa disposição e reduzem o stress.

A menopausa não é um desafio para enfrentares sozinha

Muitas mulheres têm tendência para se isolarem e descrevem a experiência da transição para a menopausa como profundamente solitária. E eu sei que, muitas vezes, pode ser difícil falar sobre as nossas experiências, sobretudo quando nem nós próprias compreendemos completamente o que nos está a acontecer e já nem sabemos bem quem somos. Mas a verdade é que a menopausa não precisa de ser um desafio vivido na solidão.

De acordo com vários estudos, as mulheres com maior suporte social tendem a apresentar menos sintomas da menopausa, incluindo os sintomas vasomotores (calores e suores noturnos) e menos sintomas de natureza psicossocial, física e sexual, reforçando o impacto positivo das relações sociais nesta fase da vida.

Está também demonstrado pela ciência que o apoio emocional e a participação em grupos de apoio ajudam a normalizar esta fase e a aceitar as mudanças físicas e psicológicas. Quando percebemos que não estamos sozinhas e que outras mulheres enfrentam desafios semelhantes, fortalecemos a nossa sensação de partilha e compreensão.

Por exemplo, num estudo transversal realizado na Escócia que envolveu 4.407 mulheres, as amigas foram percebidas como a fonte de apoio mais importante entre as mulheres que experimentavam sintomas da menopausa. Mais de 90% das participantes consideraram as amigas como ‘bastante’ ou ‘muito’ solidárias no apoio aos seus sintomas da menopausa.

Outros estudos indicam que atividades recreativas e interações sociais podem reduzir pensamentos negativos, sentimentos de culpa e o risco de depressão. E a longo prazo, mulheres com maior suporte social tendem a ser mais saudáveis, viver mais e manter uma melhor qualidade de vida.

O papel da família

A menopausa afeta a todos e vamos ser concretas – se a mãe não está bem, ninguém está bem. Portanto, é essencial que maridos, filhos e outros familiares também estejam envolvidos e, sobretudo, informados. Mas nem sempre isto acontece. Por exemplo, numa pesquisa de mercado realizada pela Wells em 2024 a 1.000 mulheres entre os 45 e os 60 anos, 60% referiram ter optado por não falar com o parceiro acerca da menopausa, e 30% admitiram que esta teve um efeito negativo no relacionamento.

Explicar o que é a menopausa, o que estás a sentir, o que pode mudar no teu dia a dia e como eles te podem ajudar não só é fundamental, como pode fazer toda a diferença na experiência de toda a família. Podes por exemplo, partilhar informações sobre a menopausa (foi para isso que criei este projeto) e comunicar abertamente sobre o que está a sentir e como as mudanças podem afetar o dia a dia.

Isto é igualmente importante quando se têm filhos adolescentes, que também estão a passar pelo turbilhão hormonal e emocional próprio dessa idade. Uma comunicação transparente ajuda a reduzir mal-entendidos e fortalece os laços familiares. Experimenta.

E lá vou eu outra vez com os estudos científicos, mas eles existem e indicam que as mulheres com maior apoio emocional por parte da família apresentam menos sintomas e melhor saúde mental durante a transição para a menopausa.

Como encontrar novas formas de socializar

Nem sempre é fácil manter uma vida social ativa, especialmente quando estamos ocupadas com trabalho, filhos, pais, questões de saúde (nossas e dos outros), responsabilidades e os desafios próprios da perimenopausa. Mas nunca é tarde para reavivar amizades antigas ou criar novas. Deixo-te algumas sugestões:

  • Workshops e cursos: Inscreve-te em workshops ou cursos onde possas aprender algo novo, como pintura, fotografia ou escrita e conhecer pessoas com interesses semelhantes aos teus.
  • Voluntariado e projetos comunitários: Envolveres-te em iniciativas de voluntariado ou projetos locais é uma excelente forma de socializar e, ao mesmo tempo, ajudar outras pessoas.
  • Grupos de apoio entre amigas: Cria um grupo de apoio para que possam conversar abertamente sobre as mudanças associadas à menopausa. Organiza encontros informais, como brunches ou cafés, para manter o contacto e partilhar experiências.
  • Atividades desportivas: Além de caminhadas e corridas, experimenta aulas de yoga, pilates ou até mesmo dança, que promovem o bem-estar físico e emocional e são uma oportunidade de conhecer outras pessoas.

O importante é encontrar algo que te traga alegria e prazer. Não é preciso estar rodeada de dezenas de pessoas – eu sou introvertida e não gosto de grupos grandes e muitas confusões – bastam algumas relações autênticas e significativas.

Quando estamos rodeadas de pessoas que nos valorizam, sentimo-nos mais confiantes e seguras. E isso é crucial numa fase em que tudo parece estar a mudar e em que tantas vezes, sentimos que perdemos um pouco da nossa identidade.

A menopausa não tem de ser um período de isolamento ou de medo. Pelo contrário, pode ser uma oportunidade para fortalecer laços e descobrir novos interesses. Ter pessoas com quem partilhar os altos e baixos, rir, desabafar e aprender é muito bom. Se sentes que precisas de mais ligações, dá o primeiro passo. Procura apoio, reaproxima-te de amigos, experimenta atividades novas.

Dá o primeiro passo

Pensa por um momento num amigo ou familiar de quem gostas, uma daquelas pessoas que te fazem sentir energizada, bem e feliz, mas com quem não passas tanto tempo quanto gostarias. Agora pensa com que frequência estás com essa pessoa. Uma vez por mês? Uma vez por ano? Há tanto tempo que já nem sabes se o número de telefone ainda é o mesmo? Dá tu o primeiro passo.

Este é um dos meus grandes objetivos para 2025: passar mais tempo com as pessoas de quem gosto, mas com quem passo menos tempo do que desejaria… e, até agora, está a correr bem.

Como tem sido a tua experiência da menopausa? Acompanhada ou, por vezes, solitária? Sentes que tens o apoio que precisas? Fazes parte de algum grupo ou comunidade? Partilha a tua experiência nos comentários.

Até breve!

Rita

Fotografia: Márcia Soares

Referências

Wang F. et al. (2023) A systematic review and meta-analysis of 90 cohort studies of social isolation, loneliness and mortality. Nat Hum Behav. 2023 Aug;7(8):1307-1319

Harvard Study of Adult Development. www.adultdevelopmentstudy.org (último acesso 17/02/2025)

Arnot M, Emmott EH, Mace R (2021) The relationship between social support, stressful events, and menopause symptoms. PLoS ONE 16(1): e0245444.

Cowell, A.C.; Gilmour, A.; Atkinson, D. Support Mechanisms for Women during Menopause: Perspectives from Social and Professional Structures. Women 2024, 4,53–72.

Polat, F., Orhan, I., & Şimşek Küçükkelepçe, D. (2021). Does social support affect menopausal symptoms in menopausal women? Perspect. Psychiatr. Care., 57(4), 1898–1905.

Nguyen TTP. et al. (2022) Physical activity and social support are associated with quality of life in middle-aged women. PLoS ONE 17(5): e0268135.

Zhao, Di MM. et al. (2019) Menopausal symptoms in different substages of perimenopause and their relationships with social support and resilience. Menopause 26(3):p 233-239, March 2019.

Ayers, Forshaw M, Hunter M. (2010). The impact of attitudes towards the menopause on women’s symptom experience: A systematic review. Maturitas 65 (2010) 28–36

Holt-Lunstad J, Smith TB, Layton JB (2010) Social Relationships and Mortality Risk: A Meta-analytic Review. PLoS Med 7(7): e1000316.

Duffy OK, Iversen L, Hannaford PC. (2012) The impact and management of symptoms experienced at midlife: a community-based study of women in northeast Scotland. BJOG. 2012 Apr;119(5):554-64.

Bedrov A, Gable SL. (2022) Thriving together: the benefits of women’s social ties for physical, psychological and relationship health. Phil. Trans. R. Soc. B 378: 20210441.

Wells. (2024). Menopausa: como é vivida pelas mulheres em Portugal. Wells. http://bit.ly/3EN0wi5

Disclaimer

Os conteúdos deste site são de caráter informativo e educacional e não substituem o aconselhamento médico individualizado. As informações sobre sintomas, tratamentos, alimentação e exercício físico são generalistas e podem não ser adequadas para todas as mulheres. Para um diagnóstico correto e um tratamento adequado, consulta sempre um médico antes de iniciares qualquer tratamento, incluindo medicamentos, suplementos alimentares, planos de exercício físico, procedimentos médico-estéticos ou outros programas relacionados com a tua saúde.

Partilha este artigo!
Facebook
Email
Print

Comenta este artigo

O teu endereço de email não será publicado.