Uma dúvida muito comum é se é possível engravidar na perimenopausa e se ainda é necessário usar contraceção. A resposta é sim! Apesar de a fertilidade diminuir significativamente à medida que nos aproximamos da menopausa e de ser improvável engravidar, não é impossível. Por isso, se não pretendes engravidar, é importante continuar a usar contraceção.
No entanto, é essencial conversares com o teu médico assistente, uma vez que os riscos e benefícios dos diferentes métodos contracetivos variam à medida que a idade avança.
Para nos ajudar a perceber melhor este tema, convidei o meu médico, Prof. Doutor Jorge Lima, ginecologista e obstetra do Hospital da Luz Lisboa, para partilhar uma visão geral sobre os diferentes métodos de contraceção na perimenopausa, os aspetos que devem ser considerados na escolha de cada um e até quando deve ser mantida.
Prof. Doutor Jorge Lima: A menopausa é definida como o momento em que uma mulher não menstrua por 12 meses consecutivos e geralmente ocorre entre os 45 e 55 anos de idade.
Durante a transição para a menopausa, conhecida como perimenopausa, o corpo passa por várias mudanças hormonais que afetam a ovulação e a menstruação.
A duração e a sintomatologia desta fase de transição na vida reprodutiva da mulher refletem as oscilações das concentrações das hormonas produzidas pelos ovários e pode ter início por volta dos 40 anos e prolongar-se até 1 ano após a última menstruação. No entanto, é um período da vida da mulher em que pode haver a necessidade de usar métodos contracetivos, dependendo da sua situação específica.
Na perimenopausa, os níveis hormonais flutuam, o que pode levar a ciclos menstruais irregulares, mas a ovulação pode continuar a ocorrer esporadicamente. Portanto, ainda há o risco de gravidez, mesmo que os períodos menstruais se tornem mais irregulares.
As mulheres na perimenopausa que não desejam engravidar devem continuar a utilizar métodos contracetivos até pelo menos 1 ano após o fim da menstruação regular.
Quem pode fazer contraceção na perimenopausa?
Todos os métodos contracetivos são elegíveis para as mulheres saudáveis. Nas mulheres com comorbilidades devemos respeitar os critérios de elegibilidade para o uso de contraceção adequado à patologia em causa.
Existe um conjunto de particularidades nas mulheres em perimenopausa a ter em conta na seleção do método contracetivo, nomeadamente as hemorragias uterinas anómalas mais frequentes (miomas, adenomiose e patologia endometrial), a irregularidade dos ciclos menstruais que poderão tornar-se pouco frequentes ou mesmo desaparecerem (amenorreia) e os sintomas resultantes da redução dos níveis de estrogénios (sintomatologia vasomotora, secura vaginal, dor na relação sexual e urgência miccional).
Neste grupo etário é necessário ter em conta, antes da escolha do método, o risco aumentado de osteoporose, de patologia oncológica (endométrio, ovário e mama) e de patologia cardiovascular e tromboembólica.
Que métodos contracetivos utilizar na perimenopausa?
Qualquer um dos métodos contracetivos pode ser iniciado em qualquer fase do ciclo após exclusão de gravidez.
MÉTODOS HORMONAIS
- Contraceção hormonal combinada estroprogestativa (oral e vaginal): podem ser uma boa opção na perimenopausa por permitirem uma regularização dos ciclos e controlo da hemorragia menstrual abundante. Adicionalmente os estrogénios aliviam os sintomas vasomotores e a secura vaginal. Outras vantagens destes métodos é a redução do risco de cancro do ovário e do endométrio, assim como permitirem o aumento da densidade mineral óssea. Como primeira linha escolher contraceções hormonais combinadas com doses de etinilestradiol inferiores a 30 microgramas por terem menor risco tromboembólico e cardiovascular.
- Contraceção hormonal com progestativo isolado: a pílula apenas com progestativo é altamente recomendada neste grupo etário, com a vantagem adicional de poderem ser utilizadas em patologias médicas que contraindiquem o uso de estrogénios.
- Sistema transdérmico com etilinilestradiol e progestativo (adesivo): por condicionar níveis plasmático mais elevados, não deverá ser uma opção de primeira linha na perimenopausa.
- Implantes subcutâneos hormonais: podem ser uma opção contracetiva na perimenopausa, mas estão contraindicados nas mulheres com hemorragias uterinas anómalas.
- Dispositivo intrauterino hormonal (DIUs com levonorgestrel): além do efeito contracetivo conferem uma proteção endometrial adicional podendo ser utilizados no tratamento de hemorragias uterinas anómalas que podem ocorrer na perimenopausa.
MÉTODOS NÃO HORMONAIS
- Método de barreira (preservativos): são uma opção segura para prevenir a gravidez e também oferecem uma proteção adicional contra as infeções sexualmente transmissíveis.
- Dispositivo intrauterino hormonal (DIUs com cobre): não são uma boa opção para as mulheres com hemorragias uterinas anómalas por poderem aumentar o fluxo menstrual.
- Esterilização: para mulheres que têm certeza de que não desejam mais filhos, a esterilização (laqueação das trompas) pode ser uma opção permanente e irreversível.
MÉTODOS NATURAIS
- Métodos baseados na previsão do período fértil (método do calendário) ou baseados na identificação de sinais e sintomas (método da temperatura basal e muco cervical) não são recomendados para mulheres na perimenopausa, pois a ovulação pode ocorrer de forma imprevisível e irregular, aumentando o risco de uma gravidez indesejada.
Até quando pode ser efetuada a contraceção na perimenopausa?
A descontinuação da contraceção na perimenopausa vai depender das características clinicas da mulher e do método contracetivo.
Assim, a contraceção hormonal combinada (estroprogestativos) pode ser usada por mulheres saudáveis e não fumadoras até aos 50 anos.
A contraceção com progestativo isolado, DIUs de cobre, DIUs hormonais, métodos de barreira podem ser mantidos até aos 55 anos ou até ao diagnóstico de menopausa.
É preciso não esquecer de que não se recomenda a utilização do doseamento sérico da FSH, para o diagnóstico de menopausa, em mulheres a fazerem contraceção hormonal combinada ou progestativa. Nestes casos deve suspender-se a contraceção duas a quatro semanas antes da realização do doseamento da FSH. Se a FSH for superior a 50, o diagnóstico de menopausa está efetuado. Se a FSH for inferior a 25, deve ser mantida a contraceção. Se a FSH estiver entre 25 e 50, deve manter-se a contraceção e fazer nova reavaliação laboratorial 6 meses depois.
Conclusão
A contraceção pode ser necessária durante a perimenopausa, altura em que a ovulação ainda pode ocorrer. É fundamental consultar o seu médico para avaliar as opções mais adequadas à sua saúde e ao seu estilo de vida, levando em consideração vários fatores, tais como a saúde geral, os risco de doenças e as suas preferências pessoais.
Jorge Lima, Ginecologista e Obstetra do Hospital da Luz Lisboa, Professor Auxiliar Convidado da NOVA Medical School, Investigador do Comprehensive Health Research Centre (CHRC)
A contraceção na perimenopausa é uma questão muito importante e deve ser tratada com a mesma atenção e cuidado que qualquer outra decisão relacionada com a tua saúde reprodutiva. Se ainda tens dúvidas ou questões sobre contraceção na perimenopausa, procura a orientação do teu médico para escolher a opção que melhor se adapta ti.
Até breve!
Rita
Fotografia: Márcia Soares