Até há pouco tempo, tinha uma ideia de menopausa mais ou menos vaga e confusa, de que seria um fenómeno que acontecia às mulheres “mais velhas”, e as tornava cinzentas, mal-humoradas, pessimistas e resmungonas.
Em 2025, a menopausa ainda é vista como sinónimo de terceira idade e frequentemente retratada nos meios de comunicação, incluindo as redes sociais, como algo negativo e indesejável. Uma pesquisa recente de imagens da palavra ‘menopausa’ no Google, mostrou-me senhoras idosas de cabelo curto e branco com ar de sofrimento a abanar um leque…imagens de cuecas para a incontinência urinária (?!)
A falta de informação credível sobre a menopausa e o facto de nós mulheres, ainda não falarmos abertamente sobre as nossas experiências com a nossa família, com os nossos amigos e no trabalho, contribuem para o tabu e o estigma que ainda envolvem o tema.
Por isso, aos 41 anos, eu pensava em tudo menos em menopausa. Sentia-me jovem (e ainda me sinto!), tenho uma filha pequena, a sensação de que tinha a vida (quase) toda pela frente e muitos projetos por realizar. A menopausa não estava de todo no meu radar nem nos meus planos e, apesar de ser profissional de saúde há 20 anos, não soube identificar os sintomas da minha própria perimenopausa.
O que é a menopausa?
A palavra ‘menopausa’ deriva do grego ‘men’ (mês ou ciclo mensal) e ‘pausis’ (fim, paragem), que significa ‘cessação do ciclo mensal’.
Em termos médicos, a menopausa representa o fim da função ovárica e da capacidade reprodutiva. Os ovários deixam de libertar óvulos, resultando numa perda irreversível da fertilidade.
Define-se como a última menstruação e é diagnosticada após 12 meses consecutivos sem menstruar. Assim, 1 ano após a última menstruação, podemos afirmar que aquele foi o dia da nossa menopausa.
Por que é que a menopausa acontece?
Vamos começar pelo princípio.
Quando nascemos, já temos todo o nosso stock de folículos para o resto da vida. Os folículos são pequenas estruturas nos ovários que contêm ovócitos imaturos, formados durante a vida embrionária. Esses ovócitos imaturos têm o potencial de amadurecer e de se tornarem ovócitos maduros – habitualmente conhecidos como óvulos.
Ao nascimento, temos cerca de 1 a 2 milhões de ovócitos imaturos e não produziremos mais nenhuns ao longo da vida. The end! Quando chegamos à puberdade, esse número já diminuiu para cerca de 300 a 500 mil.
A partir da puberdade, a cada ciclo menstrual, um ovócito amadurece e é libertado durante a ovulação. Se o ovócito maduro não for fecundado pelo espermatozoide, ocorre a menstruação e o ciclo recomeça. Se for fecundado, ocorre a gravidez. Este ciclo repete-se todos os meses durante a nossa idade fértil.
Conforme envelhecemos, a nossa reserva ovárica vai-se reduzindo, não só devido à ovulação (em que “gastamos” ovócitos), mas sobretudo pela sua degeneração natural – o termo médico é atrésia. Por volta dos 37 anos, já só existem cerca de 25 mil ovócitos, e este número vai diminuindo continuamente.
A menopausa ocorre quando os ovários já não possuem folículos suficientes para amadurecerem e libertarem ovócitos.
À medida que a nossa reserva de ovócitos diminui, os níveis hormonais começam a oscilar e, depois, a diminuir. Estas flutuações hormonais resultam nos sintomas característicos da perimenopausa.
Em que idadde ocorre a menopausa?
A menopausa ocorre naturalmente entre os 45 e os 54 anos e na Europa, acontece em média aos 51 anos.
Um aspeto interessante é que idade da menopausa varia conforme a região geográfica. As mulheres de diferentes continentes entram na menopausa em idades distintas. Por exemplo, em África, na América Latina, na Ásia e no Médio Oriente, a menopausa tende a ocorrer mais cedo, por volta dos 47 – 48 anos, enquanto nos Estados Unidos a média é de 49 anos.
Existem ainda alguns fatores que podem antecipar a idade da menopausa, tais como:
- Genética – se a tua mãe e avós tiveram menopausa precoce é provável que também venhas a ter
- Doenças autoimunes
- Algumas infeções (por exemplo, tuberculose, parotidite)
- Fumar
- Situações de grande stress ou eventos traumáticas (como abuso sexual ou violência doméstica)
- Ter baixo peso
- Não ter tido filhos
- Ter tido a primeira menstruação antes dos 11 anos
- Ter menos escolaridade ou um nível socioeconómico mais baixo
Se a menopausa ocorrer antes dos 45 anos chama-se menopausa precoce e se ocorrer antes do 40 anos, designa-se insuficiência ovárica prematura. Tanto a menopausa precoce como a insuficiência ovárica prematura, se não forem tratadas, aumentam o risco de certas doenças, nomeadamente doenças cardiovasculares, osteoporose, fraturas ósseas e declínio cognitivo, por isso necessitam de especial atenção.
A menopausa também pode acontecer devido a tratamentos médicos que afetam os ovários. As causas mais comuns incluem a remoção cirúrgica de ambos os ovários que pode ser necessária em casos de cancro do ovário ou outras doenças ginecológicas. Após a cirurgia, as mulheres que não fazem terapêutica hormonal deixarão de ter períodos e poderão começar a ter sintomas da menopausa de imediato. Outros tratamentos, como quimioterapia, radioterapia ou algumas terapêuticas hormonais, também podem provocar o fim da função dos ovários.

Quais são as fases da menopausa?
De uma forma geral, podemos dividir o período da nossa vida reprodutiva, ao qual habitualmente nos referimos como “menopausa”, em 3 fases:
- PERIMENOPAUSA: é a fase de transição que começa com as irregularidades menstruais e termina 12 meses após a última menstruação, caracterizando-se por flutuações hormonais acentuadas. É nesta fase que alguns dos sintomas são mais intensos.
- MENOPAUSA: corresponde à última menstruação e é diagnosticada depois de 12 meses sem menstruar. Ou seja, 1 ano após a última menstruação, podemos olhar para o calendário e dizer que aquele foi o dia da nossa menopausa.
- PÓS-MENOPAUSA: é a fase que se inicia após a última menstruação e se prolonga até ao fim da vida.
Quais são os sintomas mais comuns da menopausa?
Os sintomas clássicos da perimenopausa e menopausa incluem os “famosos” afrontamentos e suores noturnos, problemas de sono, mudanças de humor, cansaço, dificuldade de concentração, sintomas urinários, secura vaginal, dores nas articulações, aumento da gordura abdominal e alterações da pele e do cabelo. Mas estão descritos mais de 35 sintomas e há até quem refira mais de 70 (!).
Cerca de 80% das mulheres apresentam sintomas da menopausa e 25% enfrentam sintomas intensos ou frequentes que impactam negativamente a qualidade de vida.
Os sintomas relacionados com a menopausa podem durar entre 2 e 10 anos, embora o tipo de sintomas e a sua duração sejam muito variáveis de mulher para mulher.
Existem alguns fatores que podem ter influência nessa experiência, nomeadamente a genética, assim como fatores externos, como raça e etnia, cultura, estilo de vida e o meio envolvente. Por exemplo, o tabagismo está associado a um início precoce da menopausa e a sintomas mais intensos. Em comparação com as mulheres brancas, as mulheres negras têm mais probabilidade de ter um início precoce da menopausa, ter mais sintomas e por mais tempo, enquanto as mulheres asiáticas têm menos probabilidade de sofrer com sintomas da menopausa.
No entanto, é importante deixar claro que a experiência da menopausa é única e diferente para cada mulher. Algumas mulheres têm poucos ou nenhuns sintomas da menopausa e para algumas é mesmo um alívio por já não precisarem de se preocupar com a menstruação ou com a possibilidade de engravidar.
Menopausa não é doença, mas…
A menopausa não é uma doença. É uma fase natural e programada do nosso ciclo reprodutivo, assim como foi a puberdade. No entanto, pode aumentar o risco de algumas doenças a longo prazo, que são muito menos discutidas do que os sintomas habituais.
Independentemente de teres ou não sintomas, as alterações hormonais que ocorrem na menopausa podem aumentar o risco de desenvolver diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, osteoporose e fraturas ósseas. Se ficaste surpreendia é tempo de arregaçares as mangas, manteres-te informada sobre estes riscos e de fazeres os teus check-ups regulares.
Esta é também a altura perfeita para refletires se o teu estilo de vida está alinhado com os teus objetivos de saúde para os próximos 10, 20, 30 ou 40 anos. Estará o teu estilo de vida preparado para o futuro? Pensa nisso.
Como saber se já cheguei à menopausa?
Se tiveres mais de 45 anos, fores saudável e não utilizares contraceção hormonal, a ausência de menstruação por 12 meses consecutivos indica que estás em menopausa. Nesta situação, não é necessário fazer análises ou exames para confirmar o diagnóstico.
E se eu tomo a pílula?
Nestes casos deve suspender-se a contraceção 2 a 4 semanas antes da realização do doseamento da hormona folículo-estimulante (FSH). Se a FSH for superior a 50, o diagnóstico de menopausa está confirmado. Se a FSH for inferior a 25 deve ser mantida a contraceção. Se a FSH estiver entre 25 e 50, deve manter-se a contraceção e fazer nova reavaliação laboratorial 6 meses depois.
E se eu uso o DIU?
Se usares um DIU de cobre, tiveres mais de 45 anos e fores saudável, o diagnóstico de menopausa pode ser feito sem necessidade de análises, desde que tenhas tido 12 meses consecutivos sem menstruação associados a sintomas vasomotores (afrontamentos e suores noturnos).
Se usares um DIU hormonal, é possível realizar um doseamento sérico da hormona FSH sem necessidade de remover o DIU. Um resultado inequívoco da FSH pode ajudar no diagnóstico de menopausa.
E se eu não tiver útero?
A menopausa é definida como a última menstruação, mas, sem o útero, a ausência de menstruação não pode ser usada como referência. Nestes casos, pode realizar-se um simples doseamento sérico da hormona FSH. Se os níveis de FSH forem superiores a 50 o diagnóstico de menopausa está efetuado.
E se eu tiver menos de 45 anos?
Se tens menos de 45 anos e apresentares alterações do ciclo menstrual ou outros sintomas associados à menopausa como afrontamentos, alterações do humor, dificuldade em dormir, é muito importante consultares o teu médico pois isso pode indicar uma menopausa precoce, uma insuficiência ovárica prematura ou outra condição médica que importa diagnosticar e tratar.
Para concluir, a menopausa é uma etapa natural e inevitável da nossa vida, mas continua associada a muitos mitos, tabus e preconceitos. Compreender o que é a menopausa, porque razão acontece e como identificar as várias fases é o primeiro passo para desmistificar o tema e viver esta transição de forma informada e confiante.
Embora cada uma de nós viva a menopausa de forma única, a partilha de experiências e o acesso a informação credível são essenciais para quebrar o estigma associado a esta fase. A menopausa não é de todo o fim, mas uma transformação e uma oportunidade para cuidar da saúde e redefinir objetivos para os anos que se seguem.
Embora este artigo já tenha abordado muitos aspetos, eu sei que a menopausa pode levantar muitas questões. Se ainda tens dúvidas sobre o que é a menopausa, convido-te a explorar os seguintes artigos no site.
Artigos relacionados
Na página FAQ do site, também podes encontrar respostas claras e acessíveis para as perguntas mais frequentes sobre a menopausa.
Qual é a tua maior dúvida sobre a menopausa? Vamos conversar?
Até breve!
Rita
Fotografia: Márcia Soares