É verdade que a menopausa é um processo natural, mas também é certo que traz inúmeras mudanças e a pele não é exceção. Com a diminuição dos níveis de estrogénios, a pele pode sofrer alterações como perda de elasticidade e firmeza, tornar-se mais seca e sensível. Por isso, é fundamental compreender como estas mudanças acontecem e adotar os cuidados certos para preservar a saúde e a beleza da pele.
A pele é o maior órgão do nosso corpo. Além de ser a nossa barreira protetora contra agentes externos e de regular a temperatura corporal, tem um papel essencial na perceção sensorial, reflete o nosso estado de saúde geral e influencia a forma como nos relacionamos com os outros. Por isso, cuidar da pele durante a menopausa não é apenas uma questão estética, mas, acima de tudo, uma questão de saúde.
Para nos ajudar a explorar este tema, convidei a querida Dra. Eugénia Matos Pires, médica dermatologista da Clínica Derma 360, em quem confio os cuidados com a minha pele, para explicar como a menopausa influencia a nossa pele e partilhar as melhores soluções para mantermos uma pele equilibrada, bem-cuidada e na qual nos sintamos verdadeiramente bem!
Dra. Eugénia Matos Pires: A menopausa é um processo fisiológico natural que representa o fim dos anos reprodutivos de uma mulher, e que ocorre tipicamente entre os 45 e 55 anos de idade, representando assim por regra mais do que um terço da sua vida. Considera-se que a menopausa natural ocorre após 12 meses consecutivos sem menstruação, sem outra causa fisiológica ou patológica.
A perimenopausa, que pode preceder a menopausa durante alguns anos, é definida como irregularidade dos ciclos de ovulação e menstruação, associada a sintomas vasomotores como suores noturnos, “flushing” ou alterações do padrão do sono.
A menopausa caracteriza-se por uma redução considerável da função ovárica, com diminuição da produção de várias hormonas, com importante repercussão em diferentes órgãos, incluindo a pele. A diminuição na produção de estrogénios pelos ovários é responsável pela maioria das consequências da menopausa.
Fisiopatologia das alterações cutâneas na menopausa
A ação dos estrogénios é mediada através de recetores de estrogénios expressos na pele, sendo especialmente abundantes na área genital, face e membros inferiores. Assim, estas localizações anatómicas são particularmente vulneráveis ao hipoestrogenismo associado à menopausa, cujo mecanismo patofisiológico das alterações observadas se deve a:
- Diminuição da síntese de colagénio: Os estrogénios promovem a proliferação de fibroblastos e a síntese de colagénio, pelo que a sua diminuição leva ao declínio rápido dos colagénios tipo I e III. Tem sido demonstrado que mais do que associada à idade cronológica, a perda de colagénio na menopausa se deve à diminuição de estrogénios.
- Aumento da atividade das metaloproteinases (MMPs): As MMPs são enzimas que degradam o colagénio e a elastina. A deficiência de estrogénios leva à regulação positiva das MMPs, acelerando assim a degradação da matriz.
- Diminuição da produção de glicosaminoglicanos: Os estrogénios promovem a síntese de glicosaminoglicanos, como o ácido hialurónico, fundamentais para manter a hidratação e a luminosidade da pele.
- Alteração da função dos queratinócitos: Os estrogénios aumentam a proliferação e diferenciação dos queratinócitos, mantendo a espessura epidérmica e a sua importante função de barreira cutânea. O hipoestrogenismo que ocorre na menopausa leva a uma diminuição da espessura cutânea, com diminuição da sua função barreira, associada a aumento da perda de água transepidérmica.
- Diminuição da atividade dos fibroblastos: Os estrogénios promovem a atividade dos fibroblastos, favorecendo a produção da matriz extracelular. Assim, com a diminuição dos estrogénios, os fibroblastos produzem menos colagénio e elastina, levando à diminuição da espessura dérmica.
- Regulação da atividade dos melanócitos: Os estrogénios influenciam a melanogénese, e sua deficiência pode causar alterações da pigmentação devido à atividade alterada dos melanócitos.
- Atividade das glândulas sebáceas: Os estrogénios modulam a função das glândulas sebáceas, contribuindo para uma produção equilibrada de sebo, pelo que a sua diminuição pode levar a alterar este equilíbrio, levando a excesso de secura ou oleosidade.
- Regulação do ciclo do cabelo: os estrogénios promovem a fase anagénica de crescimento do cabelo, neste sentido a sua diminuição leva à redução da proporção dos cabelos em anagénese, sobretudo na região frontal.
Manifestações clínicas
PERDA DE ELASTICIDADE E FIRMEZA DA PELE
O hipoestrogenismo leva à diminuição da síntese de colagénio e ao aumento da degradação do mesmo, resultando em redução da elasticidade e firmeza da pele, que se manifesta por aumento de rídulas e rugas sobretudo ao redor dos olhos, boca e testa e por perda de suporte estrutural que resulta em flacidez da pele, especialmente na região maxilar, mandibular e pescoço.
DIMINUIÇÃO DA ESPESSURA DA PELE
Os estudos histológicos demonstram uma redução significativa na espessura da pele em mulheres pós-menopáusicas devido à diminuição da redução da renovação epidérmica e à diminuição da densidade da matriz dérmica.
PELE SECA (XEROSE)
A secura da pele é um sintoma importante para grande parte das mulheres pós-menopáusicas devido à redução da atividade das glândulas sebáceas e ao aumento da perda de água transepidérmica.
ALTERAÇÕES DA PIGMENTAÇÃO
O papel dos estrogénios na regulação da melanogênese é determinante, de tal forma que a sua deficiência pode levar a hiperpigmentação (manchas castanhas) ou hipopigmentação (manchas claras).
AUMENTO DA SENSIBILIDADE E PRURIDO
A diminuição dos estrogénios leva não só ao comprometimento da barreira cutânea, o que aumenta a suscetibilidade a irritantes ambientais, como também à alteração da expressão de neurotransmissores e neuropeptídeos na pele, o que torna a pele mais sensível e suscetível a prurido.
ALTERAÇÕES VAGINAIS
Os sintomas associados às alterações vaginais durante a menopausa podem ter um impacto significativo na qualidade de vida das mulheres. Os mais comuns incluem:
- Secura vaginal: sensação de secura e irritação, que pode agravar com a utilização de roupas apertadas
- Dor durante a relação sexual (dispareunia): causada por atrofia e secura vaginal.
- Prurido: desconforto persistente e irritação na região vaginal.
- Aumento da frequência de infeções vaginais: infeções fúngicas ou bacterianas recorrentes devido ao desequilíbrio do pH.
ALTERAÇÕES DO CABELO
Os estrogénios são um fator determinante para o crescimento do cabelo, de tal forma que o hipoestrogenismo pode levar à diminuição da densidade capilar ou mesmo a alopecia, incluindo alopecia androgenética ou alopecia fibrosante frontal.
Como tratar?
O tratamento das alterações cutâneas associadas a menopausa deve ser multifatorial e consistente. A terapia de reposição hormonal (TRH) pode fazer parte integrante do tratamento, mas deve ser sempre individualizada e discutida com o ginecologista ou endocrinologista assistente.
Do ponto de vista cutâneo temos várias abordagens, que idealmente devem ser combinadas para otimização dos resultados.
Tratamento tópico (rotina de skincare)
Adotar uma rotina de skincare adequada durante a menopausa é crucial para minimizar os efeitos adversos causados pelas mudanças hormonais e manter a pele saudável.
HIDRATAÇÃO
A pele seca é uma das queixas mais comuns durante a menopausa. Manter a pele hidratada ajuda a melhorar a textura, reduzir a aparência de rugas e prevenir a sensação de desconforto. A utilização de hidratantes ricos em ingredientes emolientes e umectantes, como ácido hialurónico, glicerina, ceramidas e óleos naturais é fundamental para uma hidratação adequada.
PROTEÇÃO SOLAR
A proteção contra a radiação ultravioleta (UV) é crucial em qualquer fase da vida, e a menopausa não é exceção. Nesta fase a pele é mais suscetível à ação nociva da radiação UV, de tal forma que a aplicação diária de um protetor solar de amplo espectro com pelo menos FPS 30, é mandatória.
ANTIOXIDANTES
Os antioxidantes tópicos são essenciais para neutralizar os radicais livres, que danificam as células da pele, e promovem o envelhecimento. Além disso têm a capacidade de estimular a produção de colagénio, reduzir a inflamação e de promover a hidratação. Integrar agentes antioxidantes como a vitamina C, o ácido ferúlico, o resveratrol, a vitamina E ou a niacinamida na rotina de skincare diária das mulheres na menopausa é determinante para melhorar a qualidade da pele.
RETINOIDES TÓPICOS
Os retinoides tópicos são derivados da vitamina A e são uma excelente opção para combater os sinais de envelhecimento associados a menopausa, pois estimulam a produção de colagénio, aceleram a renovação celular, têm ação despigmentante, são seborreguladores e melhoram a função da barreira cutânea.
AGENTES DESPIGMENTANTES
A menopausa é um período particularmente favorável ao aparecimento de manchas escuras na pele, pelo que a utilização de agentes despigmentantes que ajudam a uniformizar o tom e a melhorar a aparência global da pele é uma estratégia para combater esta tendência. Estas substâncias atuam inibindo a produção de melanina (o pigmento responsável pela coloração da pele) ou acelerando a renovação celular, onde se incluem a hidroquinona, a niacinamida, o ácido kójico, o ácido azelaico, o ácido tranexâmico, o tiamidol, os alfa e os beta-hidroxiácidos e os retinoides tópicos.
MANUTENÇÃO DA SAÚDE DA BARREIRA CUTÂNEA
O aumento da sensibilidade cutânea na menopausa é muito frequente, pelo que é essencial utilizar produtos de limpeza e ingredientes suaves por forma a manter a integridade da barreira cutânea.
Tratamentos de rejuvenescimento cutâneo
LASERS
Os lasers dermatológicos emitem feixes de luz que penetram na pele para atingir camadas específicas. Dependendo do comprimento de onda e da tecnologia utilizada, os lasers podem estimular a produção de colagénio, promover a renovação celular, tratar alterações da pigmentação, tratar rosácea e vasos sanguíneos. Alguns dos lasers utilizados incluem: laser de Co2, laser de picossegundos ou laser pulsado de contraste. Estas tecnologias podem ser combinadas entre si, potenciando assim os resultados.
RADIOFREQUÊNCIA MICROAGULHADA
A radiofrequência microagulhada é uma tecnologia que emite ondas de radiofrequência que alcançam as camadas mais profundas da pele através de uma matriz de agulhas ultrafinas. Este tratamento combina os benefícios do microagulhamento tradicional com o calor gerado pela radiofrequência, resultando em uma série de efeitos benéficos:
- Estimulação da produção de colagénio e elastina: As microlesões criadas pelas agulhas, juntamente com o calor da radiofrequência, estimulam a produção de colagénio e elastina, melhorando a firmeza e a textura da pele.
- Redução de rugas e rídulas: A regeneração do colágeno ajuda a suavizar rugas e linhas finas.
- Melhoria da flacidez: O calor da radiofrequência causa contração das fibras de colágeno existentes, resultando em um efeito lifting.
- Melhoria da textura da pele: A combinação de microagulhamento e radiofrequência melhora a textura geral da pele, reduzindo poros dilatados e cicatrizes.
- Melhoria da hiperpigmentação: A estimulação do processo de renovação celular pode ajudar a uniformizar o tom da pele, reduzindo manchas escuras.
PEELINGS
Os peelings químicos envolvem a aplicação de ácidos na pele para promover a esfoliação e a renovação celular. Dependendo da profundidade, os peelings podem ser classificados em: superficiais, médios e profundos. A sua realização tem como principais objetivos: melhoria da textura e firmeza da pele, tratamento da hiperpigmentação, hidratação e redução dos poros dilatados.
BIOESTIMULADORES DE COLAGÉNIO
Os bioestimuladores de colagénio são substâncias injetáveis que têm como principal função estimular a produção de colagénio, proporcionando um rejuvenescimento cutâneo natural e de longa duração. Ao contrário dos preenchimentos temporários com ácido hialurónico, que adicionam volume, os bioestimuladores de colagénio melhoram a estrutura da pele ao longo do tempo, sem volumizar. Estas substancias (hidroxiapatita cálcica ou ácido poliláctico) são aplicadas na derme, através de uma cânula, onde iniciam a produção natural de colagénio ao ativar os fibroblastos, as células responsáveis pela síntese de colagénio e elastina.
Dra. Eugénia Matos Pires, médica dermatologista
As alterações hormonais desta fase trazem, de facto, mudanças importantes na nossa pele, mas, com o acompanhamento certo, é possível mantê-la saudável, protegida e bonita. Eu sou acompanhada pela Dra. Eugénia Matos Pires, na Clínica Derma 360, e a minha experiência não podia ser melhor. Como tenho pele com tendência acneica, realizámos três sessões de laser de picossegundos, com o objetivo de melhorar a textura da pele, reduzir a aparência dos poros, tratar hiperpigmentação e marcas de acne e, muito importante nesta fase, estimular a produção de colagénio. Preciso de voltar!
Que alterações notas na tua pele?
Até breve!
Rita
Fotografia: Márcia Soares