Já ouviste falar da perimenopausa? Esta fase de transição pode ser confusa e até desconcertante, mas compreender o que está a acontecer no teu corpo e reconhecer os sinais é o primeiro passo para vivê-la de forma mais informada e tranquila.
No artigo ‘Mas afinal, o que é a menopausa e por que é que ela acontece?‘, vimos que a menopausa é a última menstruação, resultado do fim da função ovárica e da capacidade reprodutiva. No entanto, antes da menopausa, existe uma fase muito importante que precisas de conhecer: a perimenopausa.
O termo ‘peri’, é um prefixo de origem grega que significa ‘ao redor’, ou ‘em torno de’, e descreve exatamente o que esta fase representa – um período de transição durante o qual ocorrem alterações hormonais, que pode começar vários anos antes da última menstruação.
Curiosamente, muitas vezes usamos o termo ‘menopausa’ para descrever este período. É comum ouvirmos ou até usarmos expressões como “estou a entrar na menopausa” ou “a minha menopausa está a ser difícil”, mas o que habitualmente chamamos de “entrar na menopausa” é, na verdade, a perimenopausa – uma fase, para muitas de nós, marcada por sintomas intensos e desafios significativos.
O que é a perimenopausa?
Por definição, a perimenopausa é a fase que se inicia com as alterações da regularidade do ciclo menstrual e termina 12 meses após a última menstruação.
Em termos práticos, é durante esta fase de transição que começam a surgir os sintomas “clássicos” e é habitualmente o período mais difícil para a maioria das mulheres.
Por que é que a perimenopausa é uma fase difícil para muitas mulheres?
Se durante a nossa idade reprodutiva o ciclo menstrual exibe variações hormonais cíclicas e previsíveis, na perimenopausa, os ovários podem tornar-se bastante irregulares e imprevisíveis. Imprevisibilidade será mesmo a palavra que melhor define esta fase.
A progesterona
Durante a perimenopausa, a progesterona é uma das primeiras hormonas a diminuir, já que a sua produção depende da ovulação. Esta hormona desempenha um papel fundamental no ciclo menstrual e na manutenção da gravidez, além de ser conhecida por induzir o sono e ter um efeito calmante.
Com a sua diminuição, que pode ocorrer de forma rápida, podem surgir alterações de humor e do sono, bem como ciclos menstruais irregulares, com fluxos menstruais mais intensos e prolongados, sendo estes habitualmente os primeiros sintomas da perimenopausa.

Adaptado de Santoro N. et al. (1996)
Os estrogénios
Como podes observar na figura em cima, enquanto os níveis de progesterona diminuem gradualmente, os níveis de estrogénios podem ser bastante erráticos e imprevisíveis.
Podem existir picos de estrogénio – causando ciclos menstruais mais curtos, desconforto mamário, fluxo menstrual abundante e enxaquecas – seguidos de diminuições abruptas que estão na origem dos sintomas bem conhecidos da menopausa, como as ondas de calor e as alterações do humor.
É por isso que muitos especialistas definem a perimenopausa como uma fase de “caos” ou “montanha russa” hormonal onde tudo é possível. É também por essa razão que as análises ao sangue não são muito úteis e não são necessárias para diagnosticar a perimenopausa em mulheres saudáveis acima dos 45 anos que não façam contraceção hormonal.
Em suma, durante a perimenopausa, os níveis de estrogénios não diminuem de forma linear, mas flutuam erraticamente à medida que decrescem. Esta montanha-russa hormonal pode trazer uma série de altos e baixos físicos, emocionais e cognitivos. Podem existir semanas ou meses de níveis baixos de estrogénios e sintomas como os calores, suores noturnos, irritabilidade, ansiedade, seguidos de meses em que tudo volta ao normal. Podes sentir-te bem depois de meses a sentires-te mal, e vice-versa.
Esta montanha-russa pode durar vários anos. Habitualmente 4 a 8 anos. Para outras mulheres nada disto acontece, “saltam” algumas menstruações, apresentam poucos ou nenhuns sintomas e está “feita” a menopausa.
Qual é o primeiro sinal da perimenopausa?
Nas mulheres com ciclos menstruais regulares, o primeiro sinal da perimenopausa são as irregularidades do ciclo menstrual.
- Os ciclos podem ser mais curtos, mais longos ou variar. Por exemplo, pode haver ciclos de 3 semanas, seguidos de 6 semanas, e depois 2 ou 3 meses de ciclos regulares.
- O fluxo menstrual pode ser mais ligeiro, mais abundante ou variar.
- A menstruação pode durar mais dias ou menos dias.
Quando os níveis de estrogénios estão elevados em comparação com a progesterona, o revestimento do útero torna-se mais espesso, resultando em fluxos menstruais mais abundantes quando esse revestimento é eliminado. Por outro lado, quando os níveis de estrogénio estão mais baixos, as menstruações podem ser mais ligeiras.
Uma nota breve, para te contar que este foi o meu primeiro sintoma e um dos que não consegui identificar. Associava a menopausa a ciclos menstruais gradualmente mais longos e com um fluxo cada vez menos abundante, mas na verdade, no início da transição pode acontecer precisamente o contrário.
Mais tarde, à medida que o stock de folículos ováricos diminui, os ciclos menstruais vão ficando progressivamente mais longos e os sintomas clássicos, como os calores ou afrontamentos tendem a intensificar-se. No artigo ‘Mas afinal, o que é a menopausa e por que é que ela acontece?‘ explico tudo com mais detalhe e sugiro que o leias também.
Uma nota importante: embora estes padrões sejam considerados normais durante a perimenopausa, podem existir outras razões para as alterações menstruais. Por isso, é importante que consultes o teu médico para excluir outras causas, especialmente se tiveres períodos menstruais frequentes, abundantes, prolongados, ou perdas de sangue entre menstruações ou após as relações sexuais.
Quais são os principais sintomas da perimenopausa?
Os sintomas da perimenopausa podem estar associados tanto ao excesso de estrogénios quanto à sua deficiência.
Os sintomas relacionados com o excesso de estrogénios podem ser:
- menstruações abundantes
- mastalgia (dor nas mamas)
- retenção de líquidos
- dores de cabeça
Já os sintomas de deficiência de estrogénios, mais “clássicos”, incluem:
- afrontamentos
- suores noturnos
- alterações no sono
- mudanças de humor
- cansaço
- dificuldades de concentração
- diminuição do desejo sexual
- sintomas urinários
- dores nas articulações
Em que idade começa a perimenopausa?
A experiência da perimenopausa é diferente para todas as mulheres, e a idade de início pode variar bastante. Em média, inicia-se aos 45 anos mas, em alguns casos, pode começar mais cedo. Podes começar a ter sintomas, mesmo que subtis, a partir dos 40 (como eu) ou até mais cedo.
Quanto tempo dura a perimenopausa?
A perimenopausa dura, em média, 4 a 8 anos, mas pode variar significativamente de mulher para mulher. Para algumas, pode ser mais curto, enquanto para outras pode estender-se por 10 ou mais anos.
Muitas mulheres julgam que uma vez que ainda têm a menstruação não podem “estar na menopausa”. Mas na verdade é precisamente nesta fase de transição que os sintomas tendem a ser mais intensos.
Preciso de fazer análises para saber se estou na perimenopausa?
Se tens mais de 45 anos, não é necessário realizar análises para saber se estás na perimenopausa. Durante esta fase, como já vimos, as hormonas, incluindo os estrogénios, sofrem flutuações significativas, e por isso, medir os seus níveis geralmente não é útil.
Posso estar na perimenopausa e não dar por isso?
Sim. Algumas mulheres apresentam poucos ou nenhuns sintomas, e outras podem simplesmente não associar os seus sintomas à perimenopausa. É muito comum não notarmos alterações menstruais subtis, acharmos que insónias, esquecimentos, aumento de peso, cansaço e dores nas articulações são apenas sinais de stress, cansaço do dia a dia, ou que estamos a ficar mais velhas.
Muitas mulheres ficam surpreendidas (ou estarrecidas!) com a notícia da perimenopausa, especialmente se, tal como eu, estiverem nas faixa etária mais jovem para o início da perimenopausa (eu tenho 43 anos, mas comecei com sintomas aos 41). Na verdade, muitas mulheres pensam que têm uma doença grave, por não associarem os seus sintomas à perimenopausa.
Como é que eu sei se a perimenopausa está a chegar ao fim?
Em termos médicos, a transição para a menopausa divide-se em duas fases: precoce e tardia. A principal diferença entre elas é a duração do ciclo menstrual.
FASE PRECOCE
Na fase precoce, os ciclos começam a alongar-se em 7 ou mais dias (ou pode haver omissão ocasional de uma menstruação). À medida que a perimenopausa avança e nos aproximamos da menopausa, os ciclos tornam-se mais longos.
FASE TARDIA
Quando estamos 60 ou mais dias sem um período menstrual, então entrámos na fase tardia, e a prevalência dos sintomas clássicos da menopausa aumenta. É nesta fase que os sintomas são mais intensos.
Embora este seja um sinal de que atingiste a fase mais avançada da perimenopausa, esta pode ainda durar mais 1 a 3 anos antes da última menstruação. Embora, como vimos anteriormente, os médicos não costumem pedir análises para a perimenopausa nas fases iniciais, quando os níveis hormonais ainda são erráticos, à medida que nos aproximamos da menopausa, esses níveis tendem a estabilizar. Nessa altura, níveis elevados da hormona FSH podem indicar que estamos na fase final da transição.

Adaptado de Harlow et al. (2012)
Quais são as principais hormonas envolvidas na perimenopausa?
FSH (Hormona folículo-estimulante)
FUNÇÃO: Produzida pela glândula pituitária, estimula a produção de estrogénios nos ovários.
O QUE ACONTECE NA PERIMENOPAUSA: No início da perimenopausa ocorrem elevações intermitentes de FSH. Na fase tardia, à medida que os níveis de estrogénio diminuem, os níveis de FSH aumentam e mantêm-se persistentemente elevados. É por isso que os níveis de FSH são, por vezes, usados para ajudar a determinar se uma mulher está na fase tardia da perimenopausa ou se já atingiu a menopausa.
Estradiol
FUNÇÃO: É a principal forma de estrogénio durante os anos reprodutivos e é o mais potente. Maioritariamente produzido nos ovários, mas também nas glândulas supra-renais e noutros tecidos.
O QUE ACONTECE NA PERIMENOPAUSA: Durante a perimenopausa, os níveis de estradiol no sangue flutuam de forma errática e imprevisível. Na fase mais tardia da perimenopausa, os níveis de estradiol tornam-se consistentemente mais baixos (acompanhados pela subida da FSH) e mantêm-se assim após a menopausa.
Progesterona
FUNÇÃO: É produzida pelos ovários e desempenha um papel importante na regulação do ciclo menstrual. A produção de progesterona cessa se o óvulo não for fertilizado, o que resulta na menstruação.
O QUE ACONTECE NA PERIMENOPAUSA: Diminui gradualmente, mas de forma contínua, durante a perimenopausa.
Posso engravidar na perimenopausa?
Esta é uma dúvida muito comum, e a resposta é sim! Embora a fertilidade diminua significativamente à medida que nos aproximamos da menopausa, engravidar não é impossível, apenas muito menos provável. Por isso, é importante continuar a usar contraceção se não pretendes engravidar. No entanto, é essencial que converses com o teu médico, já que os riscos e benefícios dos diferentes métodos contracetivos podem variar nesta fase.
No artigo ‘Contraceção na perimenopausa: o que precisas de saber‘ o Prof. Doutor Jorge Lima, ginecologista e obstetra, explica os diferentes métodos de contraceção, os aspetos que devem ser considerados na sua escolha e até quando esta deve ser mantida.
Resumindo, a perimenopausa:
- É a fase reprodutiva da vida da mulher que começa com as irregularidades menstruais, e termina 12 meses após a última menstruação.
- Caracteriza-se por flutuações hormonais marcadas que estão na origem de muitos dos sintomas.
- Corresponde à fase em que geralmente há mais sintomas e aquela que é a mais desafiante.
- Inicia-se, em média, aos 45 anos mas, em alguns casos, pode começar mais cedo – a partir dos 40 ou até mesmo 35 anos.
- Dura em média 4 a 8 anos, mas pode variar significativamente.
- É uma experiência única para cada mulher. Algumas podem ter poucos ou nenhuns sintomas, enquanto outras enfrentam sintomas incómodos que impactam a qualidade de vida.
Como vês, há muito a dizer sobre a perimenopausa, e é natural que ainda tenhas dúvidas. Por isso, para complementar este texto, sugiro que explores também os seguintes artigos para teres uma visão mais abrangente sobre este tema.
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Até breve!
Rita
Fotografia: Márcia Soares