Quando se fala em menopausa, sinto que ainda há muita confusão, muitos mitos e ideias pré-concebidas que nem sempre correspondem à realidade. Se estás na perimenopausa, já passaste pela menopausa ou queres, simplesmente, preparar-te, estes 12 factos são um ótimo ponto de partida para ficares a saber mais e esclarecer alguns conceitos.
1. Menopausa significa o fim da ovulação (e da capacidade reprodutiva)
Sabias que, quando nascemos, já temos todo o nosso stock de folículos para o resto da vida? Os folículos são pequenas estruturas nos ovários que contêm ovócitos imaturos, formados durante a vida embrionária. Esses ovócitos têm o potencial de amadurecer e de se tornarem ovócitos maduros — habitualmente conhecidos como óvulos. Ao nascimento, temos cerca de 1 a 2 milhões de ovócitos, e não produziremos mais ao longo da vida. The end!
A partir da puberdade, a cada ciclo menstrual, um ovócito amadurece e é libertado durante a ovulação. À medida que envelhecemos, a nossa reserva ovárica vai diminuindo, não só devido à ovulação (em que “gastamos” ovócitos), mas sobretudo pela sua degeneração natural. A menopausa ocorre quando os ovários já não têm folículos suficientes para amadurecerem e libertarem ovócitos.
2. O dia do teu último período menstrual é o dia da tua menopausa
Assim como a menarca é a primeira menstruação, a menopausa representa a última. Ou seja, o dia do último período menstrual é considerado oficialmente o dia da menopausa, mesmo que os sintomas já estejam presentes vários anos antes.
A menopausa é diagnosticada retrospetivamente, 12 meses após a última menstruação. Ou seja, um ano depois, podemos olhar para o calendário e dizer: aquele foi o dia da minha menopausa.
E se tomo a pílula? Nesse caso, a recomendação geral é suspendê-la aos 50 anos (se fores saudável e não fumadora) e fazer o doseamento da hormona FSH. Para que o resultado seja fiável, a pílula deve ser suspensa 2 a 4 semanas antes da realização da análise.
3. Os sintomas mais intensos acontecem frequentemente durante a fase de transição — a perimenopausa
Embora a menopausa natural ocorra, em média, aos 51 anos, os sintomas podem começar vários anos antes do último período menstrual. Muitas vezes achamos que, enquanto menstruamos (mesmo que de forma irregular), não podemos “estar na menopausa”. Contudo, é precisamente durante esta fase de transição — a perimenopausa — que os sintomas tendem a ser mais intensos. Vamos pensar na perimenopausa como uma “montanha-russa” hormonal: os níveis de estrogénios não diminuem de forma linear, mas flutuam erraticamente à medida que decrescem. Estas flutuações contribuem para os sintomas físicos e psicológicos característicos desta fase.
4. Um dos primeiros sintomas da transição para a menopausa são as irregularidades menstruais
Nas mulheres com ciclos menstruais regulares e que não usam contraceção hormonal, o primeiro sinal da transição para a menopausa são as alterações menstruais — tanto na duração do ciclo como na intensidade do fluxo. Os ciclos tornam-se irregulares, podendo ser mais ou menos frequentes, e o fluxo pode ser mais leve, mais abundante ou variar. Numa primeira fase, há um encurtamento dos ciclos. Mais tarde, à medida que o stock de ovócitos diminui, os ciclos vão ficando cada vez mais longos até cessarem por completo.
5. Na maioria dos casos, não são necessários exames para diagnosticar a perimenopausa
Para a maioria das mulheres com mais de 45 anos, as análises hormonais não são muito úteis e não são rotineiramente recomendadas pelas sociedades médicas para diagnosticar a perimenopausa.
Porquê? Os ovários não param de funcionar de forma gradual, nem a produção hormonal diminui de forma linear. Como já vimos, durante a transição para a menopausa, os níveis hormonais flutuam de forma errática e podem ter oscilações abruptas. Por isso, uma análise num único momento pode não ser muito útil: se o resultado for “normal”, significa apenas que, naquele instante, os níveis hormonais estavam dentro do esperado. Isso não reflete as variações que ocorrem ao longo do dia ou do mês. Por exemplo, pode acontecer que os valores apareçam “normais” mesmo quando há sintomas evidentes de perimenopausa.
Mas há exceções: se tens menos de 45 anos e notaste alterações no ciclo e sintomas, (este foi o meu caso), aí sim, as análises são fundamentais. Podemos estar perante uma menopausa precoce, insuficiência ovárica prematura ou outra condição médica, e nesses casos é essencial uma avaliação cuidada.
6. A menopausa não é uma doença, mas aumenta o risco de algumas doenças
A menopausa é uma fase natural e programada do nosso ciclo reprodutivo, tal como foi a puberdade. No entanto, pode aumentar o risco de algumas doenças a longo prazo, que são muito menos discutidas do que os sintomas habituais. Independentemente de teres ou não sintomas, as alterações hormonais aumentam o risco de desenvolver diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, osteoporose e fraturas ósseas. Por isso, é essencial manteres-te informada, fazeres os teus check-ups regulares e conheceres as medidas de prevenção que podes implementar.
7. As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte nas mulheres
Embora tenhamos muito medo do cancro em geral, e do cancro da mama em particular, a verdade é que são as doenças cardiovasculares a principal causa de morte entre as mulheres depois da menopausa.
Segundo a World Heart Federation, 30% das mortes femininas todos os anos devem-se a doenças cardiovasculares. Isto representa 14 vezes o número de mortes causadas por cancro da mama. Dá que pensar, não dá? A boa notícia é que podemos reduzir significativamente este risco com um estilo de vida saudável e é precisamente por isso que partilho as minhas rotinas de exercício e as minhas refeições.
8. A terapêutica hormonal é o tratamento mais eficaz para os afrontamentos e suores noturnos
Até 80% das mulheres na menopausa tem queixas de afrontamentos e suores noturnos. Em algumas dessas mulheres, estes sintomas são tão frequentes ou intensos que afetam mesmo a qualidade de vida.
A terapêutica hormonal é o tratamento mais eficaz para aliviar os calores e suores noturnos, mas também para tratar as queixas geniturinárias e prevenir a osteoporose e as fraturas. Pode ainda trazer benefícios ao sono, ao humor, à saúde cardiovascular, melhorar a qualidade de vida, entre outros.
Atualmente, é consensual na comunidade científica que, para a maioria das mulheres, quando iniciada antes dos 60 anos ou até 10 anos após a menopausa, os benefícios da terapêutica hormonal superam os riscos. Claro que a decisão deve ser SEMPRE individualizada, discutida e ponderada com o médico assistente.
9. Existem soluções eficazes para os principais sintomas da menopausa
Como referi, a terapêutica hormonal é o tratamento mais eficaz para os afrontamentos e suores noturnos e para a síndrome geniturinária da menopausa, além de poder trazer outros benefícios. No entanto, para mulheres que não podem ou optam por não recorrer à terapêutica hormonal, existem alternativas que vão desde modificações no estilo de vida até medicamentos não hormonais — incluindo o novo fezolinetante.
A menopausa não tem de ser uma tortura, e nós não precisamos de ser mártires. Fala com o teu médico e discute as opções que melhor se adequam à tua situação. A menopausa é inevitável, mas o sofrimento, não.
10. A genética conta (e muito)
Conhecer a tua história familiar pode dar-te uma ideia do que esperar. A genética é um dos principais fatores que influenciam a idade da menopausa, existindo variantes genéticas associadas à insuficiência ovárica prematura (menopausa antes dos 40 anos) e à menopausa precoce (entre os 40 e os 45 anos).
Se a tua mãe, irmãs, tias ou avós passaram por menopausa precoce, insuficiência ovárica prematura ou menopausa tardia (após os 54 anos), é possível que também enfrentes uma situação semelhante.
11. O estilo de vida influencia a experiência da menopausa
Não é possível ter uma boa (peri)menopausa com um mau estilo de vida. Nem podemos esperar sentir-nos bem quando levamos uma vida que nos faz sentir mal. Uma mulher que tem uma alimentação desequilibrada, passa 8 horas por dia sentada sem ver a luz do sol, não pratica exercício físico, dorme mal, está sob stress contínuo e não encontrou formas de o gerir, bebe álcool regularmente… não pode esperar sentir-se bem.
Todas as sociedades médicas reconhecem o estilo de vida como um pilar fundamental da experiência da menopausa e nunca é tarde para começares a fazer mudanças. Não precisas de mudar tudo de uma vez, mas pequenas melhorias consistentes podem, ao longo do tempo, originar grandes resultados. Já ouviste falar da teoria dos ganhos marginais? É um conceito que vale a pena explorar.
12. E por último… não existem duas menopausas iguais
A experiência da menopausa é única para cada mulher. Embora existam sintomas comuns, a intensidade, a duração e a forma como os vivemos variam muito. Algumas mulheres começam a ter sintomas mais cedo, outras mais tarde, e algumas não têm sequer sintomas.
Para outras, a menopausa representa mesmo um alívio, seja pelo fim das menstruações, pela ausência do risco de uma gravidez não planeada ou pela melhoria de certas condições médicas.
Já conhecias estes factos? Qual foi o que mais te surpreendeu?
Até breve!
Rita
Fotografia: Márcia Soares