Por que temos dores nas articulações na menopausa?

Dores nas articulações durante a menopausa

Embora tenha realizado um estágio no Instituto Português de Reumatologia e o meu marido seja médico reumatologista, durante muito tempo associei as dores nas articulações a problemas que afetavam principalmente as pessoas ‘mais velhas’. No entanto, a verdade é que as dores nas articulações são extremamente comuns durante a transição para a menopausa e podem ter um impacto significativo no dia a dia.

Para explorar este tema, pedi ao Dr. José Saraiva Ribeiro, médico reumatologista do Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa, para explicar quais são as causas das dores nas articulações durante esta fase, como atuar na prevenção e qual o tratamento

Dr. José Saraiva Ribeiro: As dores nas articulações e musculares são queixas muito frequentes nas consultas de reumatologia, especialmente em mulheres na menopausa. Nestes casos, estes sintomas afetam cerca de 50% a 70% das mulheres.

Como são as dores nas articulações durante a menopausa?

As dores nas articulações são mais frequentemente de carácter mecânico. Isto significa que a dor agrava com o início do movimento e que existe dificuldade no início do mesmo, devido à rigidez articular, que se manifesta após períodos de inatividade. É por esta razão que as queixas são geralmente mais pronunciadas de manhã ao acordar ou após, por exemplo, uma viagem de carro.  A dor e a rigidez tendem a melhorar à medida que nos vamos movimentando. 

A dor pode variar em magnitude, desde um desconforto articular, por passar a “sentir” as articulações, até à dor incapacitante (nos casos em que as articulações estão inflamadas e inchadas). 

Quais as causas das dores articulares e musculares na menopausa?

Hoje sabemos que existe uma aparente associação entre perimenopausa e menopausa e dores nas articulações. Embora não esteja totalmente esclarecido se a dor está relacionada com a deficiência de estrogénios, o estudo Women’s Health Initiative (WHI) mostrou que as mulheres que relataram dor e rigidez articular no início da avaliação apresentaram maior probabilidade de alívio dos sintomas com a toma de terapêutica hormonal, seja com estrogénios e progesterona ou com estrogénios isolados, quando comparadas com aquelas que receberam apenas placebo. Assim, o ambiente hormonal da menopausa parece contribuir para o aumento das queixas articulares e musculares.

Se analisarmos a questão com mais pormenor, estudos pré-clínicos demonstraram um efeito protetor dos estrogénios a nível da cartilagem articular.  Além disso, a redução dos níveis de estrogénios está associada a uma redução da capacidade contráctil das fibras musculares; à diminuição dos níveis de hormona do crescimento e, numa fase posterior, à diminuição da produção de androgénios, que contribuem para a sarcopenia (perda de massa e força muscular), que ocorre após a menopausa. 

Além das alterações hormonais, existem outros fatores que aumentam o risco de desenvolver dores nas articulações e dores musculares durante a menopausa, tais como o excesso de peso e a obesidade, por sobrecarga e “desgaste” das articulações. Também a ansiedade, o stress, a depressão e os problemas do sono podem contribuir para as dores nas articulações. 

A perda de massa muscular devido ao envelhecimento, bem como a inatividade física, que levam ao consequente descondicionamento muscular são outros fatores importantes a considerar, sendo estes muito prevalentes nas mulheres nesta faixa etária.

Para além dos aparentes efeitos da menopausa na dor articular e muscular, a consequência osteoarticular mais importante da menopausa é a diminuição da densidade mineral óssea e o consequente aumento do risco de osteoporose, sendo esta uma doença silenciosa e largamente assintomática. Frequentemente, a manifestação da osteoporose é uma fratura (que ocorre devido à fragilidade óssea).

Como prevenir as dores nas articulações?

A prevenção das dores nas articulações depende da atenção dedicada ao sistema locomotor e muscular, incluindo a adoção de posturas que previnam lesões e a manutenção da saúde dessas estruturas. Nesse sentido, a prática regular de exercício físico desempenha um papel fundamental. Um bom tónus muscular, que está diretamente relacionado com a saúde das estruturas ao redor das articulações (como tendões e ligamentos), ajuda a estabilizar as articulações, reduzindo assim o risco de lesões que podem resultar em dor articular. Em particular, o fortalecimento da musculatura dos membros inferiores, e das regiões lombar e abdominal melhoram o equilíbrio e evitam quedas que podem ter consequência várias, algumas com gravidade, como a fratura do colo do fémur. 

Outro aspeto importante é o controlo do peso e da obesidade que são fatores que contribuem para a osteoartrose e consequente dor e limitação articular.   

Em suma, vida é movimento e movimento é vida, por isso devemos cuidar da nossa “higiene” articular e muscular através da prática de exercício físico adequado à nossa idade e condição. A prática de exercício físico permite o aumento do capital muscular, cardiorrespiratório, ósseo, entre outros aspetos. Quanto maior o nível atingido na idade adulta e em idades mais avançadas, melhor. 

Quais são os tratamentos para as dores nas articulações?

Antes de iniciar qualquer tratamento, é fundamental estabelecer o diagnóstico correto e individualizado. Não querendo simplificar demasiado, vou optar por uma abordagem baseada na causa mais frequente de dor articular e muscular na menopausa: a osteoartrose — vulgarmente conhecida como “artroses”. 

Como costumo explicar aos meus doentes, na maioria dos casos de osteoartrose, a melhoria dos sintomas, depende mais do doente (através de mudanças no estilo de vida, sob orientação do médico assistente) do que da prescrição de medicamentos. É crucial um compromisso em alterar hábitos de vida, como iniciar atividade física ou um plano de exercícios, e emagrecer, se necessário. No entanto, sempre que se justifique, o médico pode prescrever medicação para a dor.

Alguns dos meus doentes com dor articular e muscular melhoram com a prática de hidroginástica, natação, yoga, tai-chi ou com um plano de exercícios em casa. Estes últimos, consistem na mobilização passiva as articulações pela manhã, idealmente após um banho quente, o que contribui para a redução da dor e rigidez articulares.

Os tratamentos de Medicina Física e Reabilitação (fisioterapia) têm também um papel importante ao promoverem a flexibilidade e o fortalecimento muscular, contribuindo para o alívio da dor. 

O apoio nutricional é também fundamental para a gestão do peso. Por isso, recomendo frequentemente aos meus doentes que procurem acompanhamento em consulta de nutrição. 

Podem existir outras causas de dores articulares e musculares durante a menopausa? 

Sim. Na faixa etária em que ocorre a menopausa, além da osteoartrose, outras doenças como artrite reumatóide ou fibromialgia, entre outras, podem causar dores nas articulações e músculos. Portanto, é crucial estabelecer um diagnóstico correto antes de qualquer intervenção terapêutica. Deve para isso recorrer a um médico reumatologista.

Sugestões para viver bem quando existem dores nas articulações durante a menopausa

Como já vimos anteriormente, é fundamental adotar um estilo de vida saudável. Em primeiro lugar, é importante manter um peso adequado e praticar exercício físico regularmente para fortalecer os músculos ao redor das articulações e melhorar a flexibilidade, reduzindo assim a dor e a rigidez. 

Por fim, é fundamental trabalhar em estreita colaboração com profissionais de saúde, como o médico reumatologista e/ou ortopedista, fisiatra e fisioterapeuta, para desenvolver um plano de tratamento abrangente e personalizado, bem como o nutricionista para desenvolver um plano alimentar alinhado com os seus objetivos. 

Por último, o apoio emocional e a socialização (porque não experimentar aulas de exercício em grupo?) são fundamentais para o processo de melhoria.

José Saraiva Ribeiro, médico reumatologista do Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa

Em resumo, as dores nas articulações durante a menopausa são bem mais comuns do que imaginamos. Mas, com a combinação certa de cuidados, como manter o peso equilibrado, praticar exercício físico e ter o acompanhamento adequado, é possível aliviar essas dores e viver melhor. É importante lembrar que cada caso é único, por isso é fundamental procurar um médico reumatologista para um diagnóstico preciso e um plano de tratamento adequado a ti.

Também tens dores nos músculos e articulações? Sabias que são tão frequentes durante a menopausa?

Até breve!

Rita

Fotografia: Márcia Soares

Referências

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Disclaimer

Os conteúdos deste site são de caráter informativo e educacional e não substituem o aconselhamento médico individualizado. As informações sobre sintomas, tratamentos, alimentação e exercício físico são generalistas e podem não ser adequadas para todas as mulheres. Para um diagnóstico correto e um tratamento adequado, consulta sempre um médico antes de iniciares qualquer tratamento, incluindo medicamentos, suplementos alimentares, planos de exercício físico, procedimentos médico-estéticos ou outros programas relacionados com a tua saúde.

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